Hoje o nosso papo de escritor é com o escritor Lucas dos Passos
Lucas dos Passos (1989), natural de Vila Velha e radicado em Vitória, é professor de Língua Latina e Literatura no Ifes (campus Vitória) e cursa o doutorado em Letras na Ufes com pesquisa sobre a obra de Paulo Leminski. Além de Menos teu nome, seu primeiro livro de poemas, tem publicados artigos e ensaios sobre literatura em diversos periódicos especializados, bem como poemas em revistas, coletâneas, sites e outros veículos culturais.
1. Qual o livro mais marcante que já leu até hoje?
Dois livros me marcaram em momentos distintos (ambos os momentos anteriores à entrada definitiva no mundo das Letras, que para mim significou a graduação na área): 1984, de George Orwell, que li na sétima série depois de localizá-lo perdido na biblioteca da escola; e A teus pés, de Ana Cristina Cesar, que me assombra desde o último ano do ensino médio, quando o li para o vestibular da Ufes - e a partir de quando não parei mais de lê-lo. Depois desses, a cabeça já cheia de conceitos, ideias e teimosias não me vem permitindo ser marcado especialmente por outros livros - embora, evidentemente, muitos me afetem estética e ideologicamente.
2. Houve um momento em que você percebeu que seu destino era ser escritor?
Me parece que nunca houve esse momento. A atividade da escrita sempre me ocorreu de maneira muito natural (até ter que domá-la e pensá-la), mas nunca pensei nessa coisa de ser escritor - tanto que me considero mais professor que poeta, embora ambas sejam atividades de tempo integral.
3. Há alguma atividade cotidiana que pode ter levado você a querer contar histórias? Qual/quais?
Na verdade, eu não conto histórias, tenho uma imensa dificuldade de contar histórias por escrito: embora seja tenha ensaiado isso aqui e ali, sempre foi sem sucesso. Mas, se tem alguma coisa determinante para muitos de meus poemas, é andar a pé e de ônibus.
4. Como surgem ideias para escrever um livro?
Meu único livro (que reúne três obras distintas) é de poemas de temática bastante variada, então posso dizer que cada poema surgiu de maneira independente para depois ser encaixado na lógica maior - e artificiosa - que dei ao livro. Mas é quase sempre certo: meus poemas surgem de um verso específico (decassílabo heroico, geralmente) que é encontrado ou composto nos momentos mais estapafúrdios do dia a dia - um livro que eu esteja lendo, um cartaz, uma pixação, uma conversa telefônica etc. Esse verso pode se tornar o início ou a conclusão do soneto (único gênero que venho praticando nos últimos cinco anos) e os demais são escritos para sustentar ou refutar a ideia imagética nele apresentada.
5. No começo da sua carreira de escritor, que tipo de escrita/ livro te influenciou? E agora?
Eu acredito que ainda esteja no começo de minha carreira, já que acabei de publicar meu primeiro livro (que reúne poemas escritos nos últimos dez anos), mas sem dúvida duas influências marcantes são Ana Cristina Cesar e João Cabral de Melo Neto.
6. Que dicas daria para quem está começando a escrever um livro?
Pare e leia. Depois, pare e leia de novo. E leia mais uma vez antes de voltar a escrever. Revise, revise e revise à exaustão. Não tenha pressa - e perca completamente o medo de apagar o que escreveu. Um texto é uma construção: qualquer pedra fora do lugar pode determinar um fracasso.
7. Quais são os seus autores favoritos?
Os que costumo ler e acompanhar (se ainda produzem) são, em ordem indefinida, Reinaldo Santos Neves, Paulo Leminski, Ana C. e João Cabral (já citados), Paulo Henriques Britto, Glauco Mattoso, Horácio, Ricardo Reis, Manuel Bandeira, Machado de Assis, Augusto de Campos e Caetano Veloso. Nesses seguramente eu passo os olhos mais de uma vez por ano, todos os anos.
8. Quanto tempo demora para escrever um livro?
O único demorou dez anos...
9. Quais são os seus planos? Próximo projeto?
Depois de publicado o Menos teu nome, comecei um projeto (que, dada a dimensão, deve se tornar uma seção dentro do próximo livro) de escrever poemas incorporando a voz de Ana Cristina Cesar - escritora que se suicidou em 29 de outubro 1983. O primeiro poema é datado em 31 de outubro (aniversário de Drummond) do mesmo ano e começa a narrar como seria se ela tivesse desistido do suicídio. Já são mais ou menos uma dúzia de poemas (que flertam com a forma do soneto, mas tentando se libertar do sistema métrico mais rigoroso).
10. Gostaria de dizer algo para os leitores do blog?
A poesia, a literatura, é nosso pão diário: dá trabalho fazer, precisa ser preparado para se comer, nem sempre nos apetece, mas é necessário - e é sempre bom pensar sobre o que a gente come. A literatura é um pão reflexivo.
2 comentários
Nossa, George Orwell é demais, mesmo, adorei a entrevista com o Lucas Passos 😁
ResponderExcluirNossa, George Orwell é demais, mesmo, adorei a entrevista com o Lucas Passos 😁
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